Sannyasis na sociedade
contemporânea encaram muitos desafios
Por: Madhava Smullen para ISKCONNews
em 06 julho 2017
O ashram sannyasa, ou a ordem renunciada, é extremamente influente na
ISKCON. Uma alta porcentagem dos membros da Comissão do Corpo Governante
são sannyasis; enquanto a maioria dos gurus iniciadores da ISKCON também é. No
entanto, uma grande proporção caiu ao lado da estrada ao longo dos anos,
lutando para manter seus votos monásticos.
Em seu livro “As Vidas e Desafios de Sannyasis Vaishnavas na
Modernidade: Um Estudo da Ordem Renunciada na ISKCON” [The
Lives and Challenges of Vaishnava Sannyasis in Modernity: A study of the
renounced order in ISKCON, sem edição em
português], Yadunandana Swami faz um exame
honesto sem precedentes destes desafios.
Como diretor da Faculdade Bhaktivedanta (Bhaktivedanta
College) por muitos anos, ele
começou sua pesquisa para o livro como uma dissertação para MA [mestrado
em artes, humanas, pela Universidade de Wales Trinity St. David, na
Grã-Bretanha] com o intuito de
aprender mais antes de tomar sannyasi ele mesmo em 2009.
“É importante que façamos um
estudo autocrítico construtivamente do ashram sannyasa”, diz ele.
“Especialmente por causa do nível de influência que este tem na ISKCON.”
“Especialmente por causa do nível de influência que este tem na ISKCON.”
Através de entrevistas anônimas com dezenove sannyasis atuais e anteriores, ele
explora suas dificuldades, e as razoes pelas quais eles deixaram ou
permaneceram na ordem sannyasa. Ele também oferece algumas sugestões úteis
para os líderes da ISKCON implementarem e criarem um futuro mais brilhante para
o ashram sannyasa.
Um dos fatores que levou às dificuldades, de acordo com suas
entrevistas, foi que muitos sannyasis da ISKCON, especialmente nos anos
iniciais, tomaram sannyasa muito novos. Enquanto na época eles possam ter
se sentido fortes, comprometidos e inspirados pela presença pessoal de Srila
Prabhupada, quando Prabhupada deixou este mundo e eles tiveram que encarar os
desafios pessoais e institucionais, eles não foram capazes de sustentar seus
votos.
A crise da meia-idade também criou desafios, com alguns sannyasis
pensando mais tarde na vida se este era realmente o estilo de vida que eles
queriam seguir afinal. “Algumas vezes em nossa juventude pensamos que
podemos fazer tudo e então quando nos tornamos mais maduros com a idade
tendemos a reconsiderar – o que eu quero fazer com o resto de minha vida?” diz Yadunandana
Swami.
Ele acrescenta, “Se o ashram de
sannyasa é para ser tão influente em termos de guruísmo, orientação, iniciação
e trabalho missionário, então seria melhor ter uma política de que o sannyasa
fosse dado numa idade mais avançada na vida.”
Danoso também foram as motivações
imaturas de tornar-se um sannyasi. “Por exemplo,
tomar sannyasi para ter uma posição de respeito dento da organização e não para
servir a comunidade de devotos”, diz Yadunandana Swami. “Alguns dos
ex-sannyasis que eu entrevistei foram muito francos em admitir que eles tomaram
sannyasa por orgulho. Isto, é claro, é um pulo para trazer problemas no
futuro.”
Outro fator que causou problemas foi a solidão e falta de profundos
relacionamentos pessoais e apoio espiritual. Muitos sannyasis experimentaram o
que algumas comunidades religiosas chamam de estar “sozinho no topo”. Pelo
fato de eles não terem proximidade suficiente, amigos pessoais que eles possam
confiar, eles não podem confidenciar sobre seus desafios para conseguir ajuda,
com medo de que possam ser julgados.
Seus medos não são infundados. De
acordo com Yadunandana Swami, a cultura da ISKCON mostra uma falta de
maturidade em lidar com os desafios pessoais dos indivíduos. “Um Swami anônimo,
que é uma figura influente na ISKCON, me disse que ele procurou seus irmãos
espirituais para ajuda e apoio pessoal e eles postaram tudo na Internet”, ele
diz. “Agora, ele não procura mais seus irmãos espirituais para ajudar.”
A capa do livro de Yadunandana
Swami
De todos esses fatores, diz Yadunandana
Swami, podemos aprender à medida que vamos em frente.
Em seu livro, ele também dá
várias sugestões para a liderança da ISKCON considerar em implementar.
Uma, é criar um sistema de aconselhamento de pares para sannyasis que
seja apoiador e respeite a confidencialidade.
Outra, como mencionado
anteriormente, é conceder sannyasa apenas quando o candidato estiver em uma
idade madura. O Ministério de Sannyasa da ISKCON atualmente requer que a
maioria dos candidatos tenham mais de quarenta, enquanto a idade média é
cinquenta.
“Alguns de meus entrevistados recomendam tomar sannyasa após os
sessenta”, diz Yadunandana Swami.
Outra sugestão é uma educação
sistemática dos candidatos à sannyasa, assim como um permanente treinamento e
pesquisa após tomar sannyasa. Em tempos medievais, os dharma sastras eram
escritos por sannyasis baseados nas escrituras. Yadunandana Swami recomenda que
o dharma sastra, contextualizado para os tempos modernos, sejam escritos para
os sannyasis contemporâneos.
O dharma sastra poderia guiar os
sannyasis sobre quais linhas limites eles não deveriam cruzar e educar os
membros gerais da ISKCON sobre esses limites também.
Isto poderia definir o que é aceitável para pregar – Srila Prabhupada
usou muitas facilidades modernas para avançar a missão do Senhor Chaitanya – e
o que não é apropriado, em termos de conforto pessoal e propriedades pessoais.
Seguindo o caminho de obras
vaishnavas medievais como o Yati Dharma Samuchaya de Yadavaprakasha, poder-se-ia
prover um guia atualizado de como os sannyasis deveriam retificar seus erros de
acordo com a gravidade de seu erro ou se há escopo mesmo para retificação.
[…]
Não toda a responsabilidade repousa apenas nos próprios sannyasis.
Yadunandana Swami também recomenda uma cultura organizacional mais saudável na
ISKCON, com padrões preventivos de comportamento que facilitem sannyasis
exitosos e beneficiem a sociedade.
Uma coisa para os devotos em geral se protegerem contra, é tratar os
sannyasis como celebridades performáticas. “Um dos sannyasis que eu
entrevistei disse que ele algumas vezes sentia-se como um urso dançando”, diz
Yadunandana Swami. “Quando ele foi para o templo alguns devotos esperavam que
ele fosse uma celebridade e dançasse. Mas, talvez ele não quisesse dançar –
talvez ele quisesse lembrar de Krishna de um modo mais quieto.”
“Outra parte da cultura organizacional saudável”, continua Yadunandana
Swami, “É que nós não assumamos que porque alguém tomou sannyasa, esta pessoa é
automaticamente uma paramahamsa (devoto puro) e que todos lidemos com ele
como se ele fosse um paramahamsa. Isto não é saudável para o sannyasi e não é
saudável para a comunidade.”
Mais uma consideração importante
é para que os discípulos não abordem seus gurus sannyasis para aconselhar em
suas vidas conjugais.
[…]
Ele reconhece que o ashram
melhorou muito de seu começo na ISKCON até hoje, com um processo muito mais
analisado e com “muito menos” quedas de sannyasis, do que no passado, nos
últimos vinte anos.
“Mesmo assim, eu acho que o
número precisa diminuir ainda mais”, diz ele. “Se dermos ao ashrama sannyasa a
quantidade de respeito e consideração que damos de acordo com a tradição e a
cultura da ISKCON, esta quantidade de respeito deve ser proporcional ao nível
de sucesso do ashrama. De outro modo, para mim não faz sentido.”
[…]
“Espero que ele seja útil para os
devotos”, conclui Yadunandana Swami. “Eu acho que as compreensões
compartilhadas nele possam ajudar-nos a sermos autocríticos, aprender com o
passado e melhorar nosso ashram sannyasa atual.
O Livro The Lives and Challenges of Vaishnava
Sannyasis in Modernity: A study of the renounced order in ISKCON de S. S. Yadunandana Swami é uma versão revisada e ampliada da dissertação de mestrado M.A. que
ele escreveu na Universidade de Wales Trinity St. David, na Grã-Bretanha.
(ver Dandavats.com)
Yadunandana
Swami
Licença da tradução Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilha Igual 4.0
Internacional.
Tradução e ênfases em negrito por David Britto, em 29 de agosto de 2017.
Convido
os leitores a, por favor, me avisarem de possíveis erros de tradução, gramática
e digitação.
Disponível no blog Notícias Vaisnavas Internacionais e no Facebook
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