sexta-feira, 16 de março de 2012

Recente Autobiografia de Abusos de Gurukuli, um Lembrete Poderoso para Maior Vigilância.


Recente Autobiografia de Abusos de Gurukuli,
um Lembrete Poderoso para Maior Vigilância.

Por Madhava Smullen para ISKCON News em 15 de Novembro 2010



Um novo livro auto-publicado em Março pelo ex-estudante de gurukula Daniel Lutz, intitulado “My Karma, My Fault,” [“Meu Karma, Minha Culpa”, ainda sem tradução para o português] conta uma história sombria de negligência e abuso sofrida nas escolas da ISKCON de 1983 a 1994. E apesar dos dezesseis anos que se passaram desde suas experiências – e da pro atividade da ISKCON durante aqueles anos para desenvolver sistemas fortes de proteção à criança – elas ainda servem como um poderoso lembrete da necessidade por contínua vigilância por toda a nossa sociedade internacional para proteger nossos mais inocentes membros – nossas crianças.
           Nascido na Alemanha em 1979 exatamente quando seus pais estavam desenvolvendo um interesse na ISKCON, Daniel passou muito de sua primeira infância se mudando constantemente pela Europa, vivendo em um novo templo a cada quase três meses e meio.
           Em 1984, Daniel – então conhecido como Devavrata Dasa – mudou-se para a Suécia, onde ele e sua família se estabeleceram na comunidade Hare Krishna de Almviks Gard. Lá, aos cinco anos de idade, ele foi matriculado em seu primeiro gurukula. Tradicionalmente o gurukula é um sistema educacional espiritual respeitado. Embora, sem perceber, os pais de Daniel o tinham colocado aos cuidados de um professor agressor e o garoto foi agredido sexualmente e fisicamente de forma regular pelos três anos seguintes.
           Em 1989 ele e sua família se mudaram para a Finlândia. Lá Daniel tentou freqüentar a escola pública, mas sem nenhum sucesso. Ele não era capaz de se relacionar com os outros estudantes e a pobre educação que ele recebeu o colocou muito atrás de seus colegas de classe.
 “Era difícil para mim sentar quieto e me concentrar depois do que eu havia passado”, diz Daniel, agora com 31 anos. “Eu tinha pesadelos constantes sobre todas as coisas que tinham acontecido comigo.” Em 1990 Daniel viajou para a Índia pela primeira vez, aonde ele foi matriculado na escola do Gurukula em Mayapur, Índia. Lá, ele foi novamente sujeitado a abusos físicos e sexuais, desta vez pelas mãos dos estudantes mais velhos.
Em 1994, aos quatorze anos, Daniel mudou-se de volta para casa. Novamente ele tentou ir para a escola pública mas não conseguia se relacionar com os colegas ou entender os assuntos que os professores falavam. Ele deixou a escola; deixou de fazer quase tudo. Ele apenas “precisava de um tempo.” Finalmente, aos dezoito, ele decidiu que tinha que tentar por a sua vida em ordem. Ele começou a enviar currículos e a se candidatar para qualquer emprego que achasse. Alguns deles deram certo por um tempo, mas não foi fácil.
“Eu não tive educação apropriada, profissão, ferramentas para entrar no mundo ‘normal’” ele diz. “É extremamente difícil ter uma pós-vida quando você foi seriamente traumatizado. É muito difícil encontrar seu lugar em um mundo que você percebe como tendo traído você desde a primeira infância. Leva muito tempo, muito esforço, para começar a re-habitar seu corpo, mente e sentidos, ou para formar quaisquer novos relacionamentos.”
Vagarosamente, entretanto, Daniel encontrou uma forma de normalidade, uma estrutura na qual ele pudesse viver sua vida. Ele colocou os pés na rua e hoje trabalha numa grande fábrica de caminhões e também tem seu próprio website de fotografias. “Minha vida ficou bem, no final”, ele diz.
Por volta de 2008 Daniel estava pronto para olhar para trás. Ele decidiu escrever sua autobiografia My Karma, My Fault,” [“Meu Karma, Minha Culpa”] no qual ele descreveria seu traumático passado inabalavelmente, até mesmo nomeando aqueles que o tinham agredido. Ele queria ver se podia confrontar seu passado; ver se podia escrever as coisas horríveis que tinham acontecido a ele e encará-las.
“Havia muitas outras razões para escrever o livro que surgiram enquanto eu o fazia,” ele diz. “Por exemplo, eu logo percebi que eu gostava de escrever e que eu era bom nisto. Então eu pensei, vamos escrever isto de um modo tal que outras pessoas possam gostar de lê-lo. Depois, após algumas pessoas terem feito uma leitura de teste do que eu já havia escrito e terem me dito ‘Você deve terminar este livro!’ Eu tive ainda mais motivos para escrever – agora eu sabia que as pessoas queriam lê-lo.”
Foi dado a Daniel ainda outro motivo para completar seu livro quando alguém lhe disse, “Se você lançar esse livro, você estará fazendo um grande favor não apenas a você mesmo, mas também à ISKCON.”
De início foi difícil para Daniel ver como ele estaria fazendo um favor a si próprio ao escrever My Karma, My Fault,” [“Meu Karma, Minha Culpa”], entretanto.
“Eu me senti como se eu estivesse me enterrando em uma sepultura muito profunda, com todas aqueles incidentes empilhados em cima de mim”, ele diz. “Mesmo assim, eu continuei, até que eu tivesse escrito a última página e decidido ‘Ok, está pronto.’ Então eu voltei ao começo e li o livro inteiro. E é quando ele me pega – enquanto eu lia sobre eles, eu descobri que os incidentes em meu passado não me afetavam mais.”
Em março de 2010 Daniel enviou seu livro para a impressão. Poucos dias depois ele fez sua primeira viagem para a Índia – e para Mayapur – desde que ele havia saído em 1994.
“Eu andei em direção ao velho gurukula aonde eu havia passado por tanto sofrimento e abuso”, ele diz. “Embora muito do antigo complexo tivesse sido abandonado eu ainda o reconhecia. E me fez muito bem me encarar mais uma vez naquele lugar. Eu acho que eu nunca teria sido capaz de fazer isto se eu não tivesse escrito este livro.”
Em 26 de maio de 2010 Daniel enviou uma de My Karma, My Fault,” [“Meu Karma, Minha Culpa”] para Sua Majestade a Rainha Silvia da Suécia, que é ativamente envolvida em proteção à criança. Sua secretária o enviou esta resposta: “ Sua Majestade a Rainha quer agradecer a você por enviar uma cópia de seu livro My Karma, My Fault,” [“Meu Karma, Minha Culpa”] a ela. Foi necessário muita coragem para escrever este livro e a Rainha espera poder lê-lo e compartilhar de sua história. A Rainha lhe envia suas boas saudações.” Cumprindo com suas palavras, a Rainha Silvia realmente leu o livro e foi à mídia sueca para apoiar o livro. O interesse que se seguiu resultou em várias entrevistas de jornais e Daniel pode contar sua história; ser ouvido e ser entendido.
Lembrando um dos motivos proeminentes pelos quais ele tinha escrito o livro Daniel também o enviou a muitos membros do GBC e outros líderes em Mayapur, Suécia e ao redor do mundo. Ele sabia que muitos da grande ISKCON mundial nunca estiveram cientes da imagem completa do abuso que tinha ocorrido em seus anos mais iniciais.
A resposta dos membros do GBC que leram My Karma, My Fault,” [“Meu Karma, Minha Culpa”] foi encorajadora. “Eles têm sido muito solícitos e muito gentis comigo com suas palavras”, diz Daniel. “Alguns deles ficaram em choque depois que leram o livro porque eles não tinham tido ciência da extensão dos abusos que tinham ocorrido. Afinal, este é o primeiro livro que até hoje de uma criança da ISKCON, dando uma descrição em primeira mão. E então eles me agradeceram profusamente por ajudá-los a finalmente entender, de um ponto de vista de uma criança abusada, exatamente o que aconteceu.”
Um membro do GBC, Bhanu Swami, escreveu para Daniel: “Eu o li em uma sentada. Eu acho que todos os pais, professores e líderes na ISKCON deveriam ler o livro. É desastroso que o passado não possa ser apagado, especialmente a experiência individual. Pelo menos nós podemos tomar medidas preventivas dando aos devotos uma idéia de como criar e educar as crianças. Eu recomendarei este livro para qualquer pai que pensar em colocar suas crianças em gurukulas também – não para assustá-los, mas para assegurar que eles tomem precauções.”
Anuttama Dasa, outro membro do GBC e advogado para a proteção das crianças dentro da ISKCON, comentou: “Este livro é um lembrete para todos os membros da ISKCON de que nós vivemos em um mundo que requer vigilância na proteção dos membros vulneráveis da sociedade, especialmente nossas crianças e famílias. E embora a ISKCON tenha sido muito pro ativa em lidar com o abuso que ocorreu dentro e ao redor de nossas comunidades nas décadas de 1970 e 1980 e inícios da de 1990, o livro de Daniel é um lembrete de que mesmo uma criança sofrer abuso não deve ser tolerado. Nossas famílias, líderes e escritórios de proteção às crianças ao redor do mundo têm que estar constantemente de guarda para assegurar que estamos fazendo tudo dentro de nossas possibilidades para manter um ambiente seguro para nossas crianças.”
           Daniel concorda. “Seria minha maior conquista se eu pudesse abrir mais os olhos das pessoas para esse assunto” diz ele. “Não devemos pensar, ‘Isto nunca acontecerá aqui’ ou ‘Este tipo de coisa não ocorre mais.’ Devemos sempre estar atentos.”
           Ele também espera que seu livro chegue até muitos dos jovens adultos com quem ele ia ao gurukula. “Eu espero que isto os ajude a se abrirem e compartilhar o que eles passaram”, diz ele. “Porque tudo isso tem que ser publicado, tem que se falar sobre, tem que ser admitido. E isto ajudará a apagar a história obscura que a ISKCON tem, para que ela então possa seguir em frente.”
           Daniel é cuidadoso ao esclarecer seus objetivos. “Não é minha intenção manchar ou maldizer o movimento Hare Krishna”, ele explica. “Esta nunca foi minha pauta nunca será. Eu simplesmente quero que as pessoas estejam cientes do que houve.”
           Ele espera que a ISKCON desenvolverá agora um processo de triagem ainda mais sofisticado para professores e educadores e que todos os gurukulas proverão uma educação equivalente àquela dos sistemas públicos de escola. “As coisas se organizaram para mim no final, mas foi uma luta”, diz ele. “Se um dia eles decidirem que não querem ser um Hare Krishna, as crianças deverão estar educadas para ter plenas opções para ir para a universidade e conseguir um trabalho – eles não deveriam ter que começar com nada, como eu fiz.”
           Hoje, Daniel não acredita em Deus e não tem conexão com a ISKCON, embora ele respeite aqueles que decidem praticar a consciência de Krishna. “Apenas não me atrai”, diz ele. “Não é atraente continuar com algo que me deu principalmente dor e sofrimento”.
           Apesar de tudo o que ele passou, Daniel parece uma pessoa de pensamentos muito claros e equilibrados. Em seu modo sensato ele admite que houve momentos bons assim como ruins em sua infância. “Quantas crianças, ou mesmo adultos, hoje em dia podem ver tanto do mundo quanto eu pude? Viver na Índia? Ver tanta cultura e vistas exóticas? Eu quero dizer, eu andei ao redor dos terrenos de Mayapur em um elefante, segurando uma deidade em meu colo. Quantas crianças puderam fazer isso?”
           Estas poucas memórias alegres estão escondidas nas amargas recordações da crueldade, abuso e violência, entretanto. “Eu tenho um filho de sete anos de idade agora e muito das coisas normais de criança que ele faz eu nunca experimentei”, ele diz. “Eu nunca tive a oportunidade de ser uma criança do jeito que as crianças devem ser permitidas ser”.
           E apesar de todo o trabalho de cura que tem feito, Daniel continuará a ter as obscuras memórias com ele. “Não há provavelmente um único dia em que eu não pense em meu passado”, diz ele. “Você não pode apagar memórias e há tantas coisas que as disparam. Pode ser um determinado momento do dia, uma atividade, um determinado cheiro. Algumas noites eu não consigo dormir por causa dos pesadelos. Eu tenho feito muita cura, mas há muito mais a ser feito – isto será um processo contínuo de cura por toda minha vida.”
           Refletindo sobre a história de Daniel, o membro do GBC Anuttama Dasa conclui: “Por Daniel, e por todas as nossas crianças, nós pedimos que todos os líderes e membros da ISKCOM comprometam-se a permanecerem vigilantes para sempre manter melhorando nossas escolas e sistemas de proteção à criança ao redor do mundo e para construir para a sociedade de Srila Prabhupada uma reputação de um lar seguro e zeloso para aqueles colocados aos nossos cuidados.”

My Karma, My Fault,” [“Meu Karma, Minha Culpa”] está disponível na Bhaktivedanta Library Services aqui :http://blservices.com/my-karma-my-fault

O livro também está disponível em Amazon.com aqui: http://www.amazon.com/My-Karma-Fault-Daniel-Lutz/dp/916...



Tradução: David Britto 20/11/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário